GESTOS PERIGOSOS

segunda-feira, 15 de junho de 2009

LER É CRESCER !

Beni esforçava-se para perder o medo de falar. E alguma mudança já ocorria no comportamento dele. Tanto assim que não foi difícil para Dida, sua fiel amiga e possibilidade de namoro, convencê-lo a assistir a uma palestra no anfiteatro do colégio. Eu fora convidado pela direção da escola para falar sobre livros e leitura. Uma iniciativa louvável para incentivar os alunos ao hábito de ler.
Beni e Dida acomodaram-se na última fileira, por escolha dele. Não queria ser muito notado entre seus colegas de escola. Como o auditório estava lotado, não lhe seria difícil passar despercebido.
- Alguém pode me responder quantos analfabetos existem no Brasil? – eu iniciava a palestra. – Como a quantidade ainda é muito grande, milhares de pessoas carecem do mínimo de Conhecimento. Por essa razão, única e indiscutível, o fracasso é o companheiro permanente na vida dessa gente. Ler é acrescentar bagagens culturais. É saber mais. Lendo, cada um de vocês aumenta o vocabulário, desenvolve a análise das argumentações, ou seja, elabora automaticamente pontos de vista e idéias.
- Ele é bom, não acha? – Dida provocava o Beni.
- Parece que é... – Beni, finalmente, emitiu um parecer, ato raro para ele, para júbilo da Dida. Eu continuava:
- Todo aquele que pretende falar bem, criar com correção seus argumentos para expô-los a outras pessoas, deve ler muito. É regra fundamental da comunicação. Quem se dedica metodicamente à leitura dificilmente escreverá ou falará de forma errada. Na leitura, assimilamos as maneiras corretas do uso das palavras, da composição das frases, enfim, de todos os quesitos necessários à boa comunicação. Mas uma coisa é importante: selecionem cuidadosamente o que vão ler. Existem muitas porcarias em forma de livros, que não acrescentarão nada ao conhecimento. Pelo contrário, poderão destruir o que vocês já tenham construído.
- Eu não gosto de ler. – sussurrou Beni a Dida. – O que posso fazer?
- Pergunte a ele. Levante a mão e pergunte. – disse-lhe ela.
Inútil proposta. Ela sabia que Beni ainda não estava preparado para expor-se em público. E resolveu substituí-lo na questão:
- Professor, eu não gosto de ler. O que posso fazer para mudar?
- Para quem não praticou a leitura desde pequeno, o desafio não é fácil. Mas também não é impossível. Você precisa adquirir o hábito. Ter vontade, entendeu? Ter consciência de que você só obterá sucesso na vida se buscar o Conhecimento através da leitura. Mas não se disponha, inicialmente, à leitura de grandes best-sellers, porque são famosos e porque todo mundo lê. Comece com livros de poesia, de crônicas, de contos... Parábolas... Muitos destes também são best-sellers, ótimos para conquistar nossas atenções iniciais, pois se constituem de estórias curtas e com muito conteúdo. Coisas assim, plenas de ensinamentos. Poesias, crônicas, contos e parábolas são ricos em exemplos verdadeiros da vida. E à medida que você desenvolve o gosto pelas letras, seu apetite literário vai exigindo leituras mais complexas. É só começar. Experimente. Tenho absoluta certeza de que você jamais se arrependerá de ter-me feito essa pergunta.
Ao finalizar, depois de uma hora de explanações, conclui:
- Lembrem-se sempre: ler é crescer!
Beni e Dida deixaram a escola felizes. Gostaram da palestra. Ouviram coisas esclarecedoras e importantes. Compreenderam que a leitura é a base de todo o Conhecimento. É a via preferencial do sucesso. E, a caminho de suas casas, passaram por uma livraria. Cada um comprou um livro. Beni escolheu Ecos da Alma, da poeta Fátima Irene Pinto. Dida optou por Levando a Vida Leve, de Laura Medioli. Carregaram-nos como algo precioso junto ao peito.
À porta da casa da Dida, entreolharam-se, sorriram e...
- Comprei este livro pra você, Beni. Com todo o meu carinho. – Dida estendeu as mãos dando o livro para o Beni.
O Beni, sem conseguir falar, deu o livro que comprara para Dida. E uma lágrima teimosa riscou de emoção seu rosto enrubescido. Dida estava feliz. O Beni dera o primeiro passo em busca da felicidade. E, quem sabe, do seu amor.
Beni foi direto ao seu quarto. Sentou-se na beirada da cama, pensativo. Desembrulhou o pacote do livro, com muito cuidado, sem pressa. Passeou pelas páginas impressas, sem ler. Buscando contato com aquele livro, senti-lo nas mãos. Algo valioso, só seu. Talvez estivesse ali, no livro, a chave das grades que prendiam seu projeto de ser feliz...
- Eu vou conseguir! – falou para si mesmo. Depois, deixou-se tombar sobre a cama. Paz sem cerimônia invadiu seu íntimo. E adormeceu tranqüilo, abraçado ao livro.

Roberto villani

Um comentário:

  1. JúlioMM - Descalvado - SP
    Adquiri o hábito de leitura pelo gosto do cinema. Me encantava o modo que as expressões eram mostradas atraves do poder da imagem de cinema. Li sobre artes plasticas, montagem, roteiro, obras literarias, politicas, maquiagem, atuação, meio ambiente, economia, esportes, musica, tantas coisas a qual esta arte pode representar. Conheci cultura do Japão, da França, da Mongolia, da Argentina, dos EUA, da Armenia, da Africa do Sul, do interior do Brasil.
    Acabei adquirindo o habito de sempre ler algo sobre o filme que irei assistir.
    Sempre escuto que as pessoas não tem tempo para ler um livro de tal tamanho, para mim, essas pessoas não sabem o tempo que estão perdendo na vida ao não ler. Ler muito bom, é Bão de mais.

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