GESTOS PERIGOSOS

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

EU AMO TU - uma crônica de Roberto Villani


Ele nasceu pela manhã e aí muita coisa aconteceu no céu. O Incomensurável Mestre, apressado, convocou o Conselho dos Anjos para uma reunião importante. Dispôs seus Conselheiros ao redor da Távola Celestial. E no mesmo tom que anunciou a criação das flores, das árvores, dos animais, das águas e das estrelas, falou com entusiasmo:
- Meus Conselheiros, ele nasceu há pouco. Já derramou suas primeiras lágrimas. O PAI ordenou: quero que ela seja concebida hoje, antes da meia-noite.
- Mestre, teremos pouco tempo para... – um dos Conselheiros tentava argumentar alguma dificuldade, mas foi interrompido pelo Incomensurável Mestre:
- Hoje é o dia 21 de junho. Tem que ser hoje! E não quero desculpas. O presente dele é a felicidade por toda a vida. E ela nascerá para ele no dia 21 de fevereiro.
O Conselho reuniu-se em harmonia. Decidiram atender prontamente o pedido do Mestre.
- Está certo, Mestre. Vamos resolver a questão imediatamente!
Um recém nascido na Terra sorriu pela primeira vez. E os Anjos começaram a escrever uma linda história de amor.
Os dois, ele e ela, nasceram de famílias pobres. Ele, menino, crescia livre na simplicidade daqueles que sonham com a alegria do sempre. Pertinho do mar. Ela, menina, buscava nos sonhos a alegria simples das bonecas de pano e da amarelinha no chão de terra. Bem próxima dos campos. Embora muito distantes um do outro, tinham na alma a ansiedade do encontro. Ainda não se conheciam, mas sentiam que alguma coisa eterna estava para acontecer num momento próximo. Com quinze anos, ela mudou-se para Santos. Deixou o Interior com os pais e irmãos.
O carnaval de 1957 estava para acontecer. Ele e seu amigo Naylor combinavam ir ao baile pré-carnavalesco do São Vicente Praia Clube. O amigo levaria a namorada Rody. Rody levaria sua prima, ela, para fazer companhia para ele. Estava tudo escrito no livro dos destinos. Dia 19 de janeiro, a lua encantava o céu de estrelas. O Incomensurável Mestre e os Conselheiros observavam tudo, lá de cima, atiçando os astros para que eles brilhassem mais que nas outras noites. Aquela tinha que ser especial. Enfim, ele e ela estariam unidos, almas compromissadas, definitivamente. E o primeiro beijo, naquela mesma noite, oculto, no retorno do clube, emocionou o Mestre. E os Anjos, com alegria, aplaudiram tanto que o Universo parou para sonhar com o amor. E os poetas cantaram canções românticas que só aqueles que amam podem entender.
De mãos dadas, caminhavam pela praia e confessavam seus sonhos, suas esperanças... Programavam os filhos, confabulavam segredos ao som do mar beijando a areia... No relacionamento entre ambos, trocaram seus nomes pela palavra BEM (um dos segredos da perfeita união, confessam).
E tiveram filhos, a primeira aos vinte anos. E a segunda aos vinte e dois. O terceiro seis anos depois... E criaram (e criam) cães, gatos, pássaros... E plantaram (e plantam) árvores, flores... E conquistaram (e conquistam) amigos inesquecíveis. No decorrer da história, cúmplices um do outro, venceram as dores, apagaram as mágoas, construíram vida própria dos romances eleitos. Ela, a grande companheira, inseparável, guardiã incansável da vida dele. A coluna-mestra de uma união que perdura cinqüenta e dois anos, desde aquele longínquo 1957. Quem é ela? Rosária, meu amor além da vida. Quem sou eu? Roberto, humilde coadjuvante nesta história escrita por ela, com certeza em parceria com o Incomensurável Mestre e com os Anjos da Távola Celestial.
- Bem, eu amo tu! Que Deus e Jesus acompanhem você sempre. Assim eu o farei muito além da nossa existência na Terra, pelo infinito, pela eternidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário