GESTOS PERIGOSOS

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Moleskine, você conhece?



Eu faço anotações em pedaços de papel. Confesso, sou um tanto desorganizado para registrar coisas e fatos do dia-a-dia. Manter um diário, nunca! Nem tentei em toda a vida. Entretanto, há quem dedique parte do tempo de cada dia para anotar a sua história de cada dia. Como ganhar o pão, aquele de cada dia.
Bruce Chatwin (1940 – 1989), escritor inglês, viajava muito. Colhia, nessas jornadas, fatos históricos dos lugares por onde passava. Entrevistou muitas personalidades, que colaboravam para sua coleção de histórias. Esse acervo cultivado ao longo de alguns anos, ao longo das viagens, acabou fornecendo material para dois livros: O Rastro dos Cantos, que fala sobre música aborígine, e In Patagonia, uma espécie de relatório sobre a selvagem América do Sul.
Na verdade, Bruce era um metódico colecionador de histórias e relatos de boa parte do mundo. Tinha o hábito de investigar, de pesquisar e de registrar tudo num peculiar livreto de anotações. Moleskine é o nome desse livreto. Pequeno, muito prático, com folhas duráveis bem presas e amarradas por um elástico. Por seu porte pequeno, pode ser levado nos bolsos do casaco ou do paletó, o que o torna companheiro dos artistas em geral. É claro que quando Bruce o conheceu, apaixonando-se por ele, esse livreto já era um clássico.
Moleskine, na penumbra da história, gerou lendas em torno de si. Há citações de que artistas das mais variadas classes utilizavam essa espécie de caderninho para anotarem a evolução de suas produções. É possível que Ernest Hemingway (1899 – 1961), Pablo Picasso (1881 – 1973), Henri Matisse (1869 – 1954) tenham possuído moleskines para suas anotações, embora nada comprovado. Dizem até que Hemingway tenha escrito suas crônicas de Paris, nos anos 20, quando freqüentava vários cafés daquela cidade. Conta-nos algumas lendas que ele tirava seu moleskine e um lápis do bolso e começava a escrever naquelas páginas tão inspiradoras. Confirmado, Vincent Van Gogh (1853 – 1890) usou esse tipo de livreto, pois em 2002, em Amsterdam, seus moleskines foram expostos à visitação pública.
Durante dois séculos o moleskine foi o caderno legendário de intelectuais e de viajantes. Sua produção foi interrompida em 1986 com a morte do seu fabricante. Mas, com a iniciativa da produtora italiana de marca Modo & Modo, o charmoso caderninho voltou às prateleiras de vendas logo no início do nosso século. É claro que hoje, com a Informática ao nosso dispor, escrever a mão é coisa do passado. O moleskine é "um sopro de romantismo e descrição". Mas não duvidem se, em médio prazo, estaremos vendo nas mãos de artistas e intelectuais o famoso moleskine, num resgate interessante dessa moda européia, a despeito da atual tecnologia.
Roberto Villani

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