GESTOS PERIGOSOS

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

POEMA DE UM LOUCO


Rodo pelo salão das minhas quimeras. Acendo as luzes da minha imaginação. Olho-me no espelho da ilusão. Vejo-me radiante, vestido com traje a rigor. Um tango espalha sons pelos quatro cantos. Ecoa pelas paredes incandescentes da minha euforia íntima. Quero, neste momento, dançar um grande sonho de amor.
Clamo aos meus sentidos as sensações próprias dos meus objetivos. O ritmo é tão quente que não consigo parar os meus pés. Minhas pernas. Esboço, então, os primeiros passos, ainda solitários. Minha mente extravasa emoções tantas que sinto vontade de rir e de chorar enquanto imagens transpassam minha pele, minha carne, minh´alma. Estendo a mão ao nada, a ninguém. Impaciente, rogo aos deuses da esperança a chance de encontrar-me. Confesso que estou um tanto perdido nesta casa das memórias. Cabeça de um corpo que ainda não despertou para o delírio.
Meus olhos, antes transparentes, põem-se insondáveis como defesa plena da minha incredulidade ao sonhar, de amar. Por onde andaria, neste momento, o meu coração? No meu peito já não bate, pois se acomodou no âmago daquela que o roubou de mim. Triste fim de um sonhador romântico que jaz aos pés do fracasso.
Mas eis que, num vislumbre da mente que desperta, num repente mágico de solução irreal, minha dama surge como deusa sempre esperada. Estende-me as mãos e num sorriso devolve-me por momentos a graça da vida. Trago-a de encontro a mim e, ao contato de seu corpo inteiro, renasce em minhas entranhas o vigor de jovens tempos. Quero embeber-me do perfume que exala das rosas incrustadas em seus cabelos. Quero compor os mais lindos poemas que, etéreos, transformam em luzes as palavras do meu platônico amor. Sorvo em seus lábios o mel que me põe louco. Que me fez louco. Que me faz louco.
Entrelaço com as minhas as longas pernas da minha escultura infinita. Giro ao longo de sua cintura. Minha mão corre por entre suas curvas, pleno prazer de tê-la minha, somente minha. O calor de sua pele aquece meus pensamentos antes frios, sombrios. Bebo o néctar da gratidão. O tango arrasta-me à fantasia do êxtase. A imagem dela apaga-me o pranto contido. Sou feliz pela eternidade daquele instante.
Contornos ritmados, dançamos ao sabor de algo que nunca acabará. É assim que desejo. É assim que me sinto neste imenso salão de quimeras. É assim que me exponho ao medo de que tudo termine como sempre. O fim que me leva à realidade. Realidade que me consome a esperança de tê-la de volta. Insanidade... Quando o tango parar, acabar... Quando tudo se desfizer, inconseqüente desfecho de um poema de amor escrito numa página do diário de um louco...

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